Por mais inverossímil que pareça, absurdo mesmo, as simpatias existem, mas existem mesmo, pois disto tenho provas, das mais incríveis possíveis, tal como aconteceu recentemente com o autor destas linhas.
Devido ao nascimento de um lindo rebento que veio aumentar a nossa já numerosa prole, não se dormia lá em casa fazia quase trinta dias. Pois bem, amigo leitor, nossas noites eram trocadas pelos dias, porque o menino passava a noite toda chorando de fome ou por outras razões, tais como cólicas e outras dores.
A mãe da criança, extenuada, já não sabia para quem apelar.
Eis que, num lindo dia, a avó — que morava em Minas — veio visitar o netinho. Bendito dia! Porque, a partir de então, nunca mais se ouviu o choro do neném que tantas noites de vigília nos fez passar.
Como?! perguntará o leitor.
Apenas com uma simples simpatia. Uma das milhares existentes nesse imenso e místico país, que são usadas em todos os lares, principalmente nos menos favorecidos pela sorte, onde não há, sequer, nem mesmo um prático de farmácia.
Lá, a medicina é superada pela mandinga, pelo feitiço, pelas rezadeiras, pelos raizeiros, tal como nos nossos meios indígenas, onde as doenças são facilmente curadas através de unguentos, chás e outros processos ainda desconhecidos pelo homem da cidade, o chamado homem esclarecido.
A simpatia, que nos fez retornar aos braços de Mor-feu, consistiu no seguinte: Debaixo do colchão da criança, a avó pediu que colocássemos, às 18 horas (que é a hora do Angelus), uma tesoura aberta, de qualquer tamanho, três dentes de alho e três pequenos galhos de arruda durante sete dias consecutivos, jogando, após transcorrer esses dias, os galhos de arruda e os dentes de alho em um riacho próximo, renovando-os por vinte e um dias, quando, então, a criança já não mais necessitará desta simpatia, porque terá se acostumado a dormir à noite.
Leiam, ponham em prática e verão como funciona o mundo mágico das simpatias escritas por Maria Bebiana Ferreira dos Santos, senhora de notável sabedoria herdada de seus ancestrais, que remontam aos tempos coloniais.
Onofre da Silva e Souza
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