Couberam a Luís Filipe de Lima o privilégio e o desafio de falar sobre Oxum, talvez o mais cultuado e amado dos Orixás — no Brasil e em todos os lugares atingidos pelo processo civilizatório africano na diáspora. Oxum é símbolo focal do panteão afro-brasileiro, a grande mãe — zeladora de gestantes e crianças —, que também pode se apresentar como a iabá sedutora, coquete e vaidosa. Como dar conta das tantas facetas que envolvem a Senhora dos Grandes Feitiços, protetora dos oráculos e guardiã dos mistérios femininos?
Luís Filipe, com a sensibilidade certamente advinda do exercício da arte musical, constrói, como a uma pauta, esta sinfonia laudatória a Oxum. Por vezes, o texto tem o sabor delicioso das narrativas feitas por aqueles que sonoramente contam histórias aqui e na África, os griots. O ofício académico acrescenta valor e remete o texto a outros interessados — artistas, professores, alunos, como também a todos aqueles que
pretendem se aprofundar nos meandros da filosofia e da religiosidade afro-brasileiras. Saem, portanto, ganhando todos: adeptos, simpatizantes e interessados nesta cultura singular trazida pelos afro-descendentes.
Transparece nos escritos de Luís Filipe a vontade de abordar todos os sentidos simbólicos da Doce Mãe das Águas. A paixão com que construiu seu texto certamente o guiou mesmo diante da reconhecida dificuldade contida na tarefa de dar conta desta multiplicidade de papéis e representações contidas na grande Mãe Negra, decantada em prosa e verso, tanto na literatura como no cancioneiro nacional.
José Flávio Pessoa de Barras
Escritor
Março de 2007
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