Detalhes
A atenção de você a mim dispensada — na procura e no interesse demonstrado às minhas obras anteriores — fiseram-me procurar presenteá-lo, despretensiosamente, com mais um trabalho sobre o mundo misterioso do Ritual Africano. Isto porque, o que até hoje foi mostrado, não representa uma Ínfima parte de toda a sua extensão. Iremos, devagar, alcançando gradativamente, os seus escalões.
Para a obra em tela, me vi obrigado a uma série de pesquisas, a maioria delas desenvolvida no campo de ação da sua descritiva, onde ali, acompanhado pelo meu Secretário-Particular, o Jornalista Rubem Brandão, empreendemos visitações periódicas às diferentes bibliotecas e outros órgãos de consultas, sem contudo, abandonarmos as realizações ritualísticas terrenas.
Da nossa coletânea e observações nasceram as con-'dossier', aliás, na época de nossa estada na Ilha de S. Tomé, África, facilitado em todos os setores de obtenção pelo, hoje saudoso José Osório de Oliveira, o famoso Arriaga Quaresma, exímio contador de histórias da Ilha de São Tomé.
'O Ritual Africano e Seus Mistérios', além de se consistir em uma obra específica dos cultos e costumes praticados no Continente Negro, adquire, inclusive, o aspecto de o haver sido tesificado, também, versando sobre a arte negra. Quando falamos em arte africana, temos em regra em mente apenas a escultura. De fato não é ela a forma única de arte africana: mesmo considerando apenas a África Negra, e sem sairmos do domínio das artes plásticas — isto é, sem falarmos da música africana — há que referir as pinturas rupestres, de caráter arqueológico. Por uma: extensa área, a escultura — e nomeadamente a escultura tribal — é fundamentalmente de caráter religioso.
Pode dizer-se que a vida religiosa tribal, de um modo geral, começa com o culto dos deuses, gênios ou espíritos naturais — forças elementares personalizadas — e de determinadas entidades familiares, mormente dos antepassados — os progenitores do grupo, que de certo modo correspondem aos primeiros seres humanos sobre a terra, como criação imediata da Força Suprema.
Estas duas categorias confundem-se muitas vezes, porque gênios e antepassados são, ambos, entes que se reportam aos primeiros momentos da criação donde tudo deriva; os primeiros a quem o Criador insuflou vida, e ainda porque os antepassados, provindos de linhagens de deuses ou de animais totêmicos divinizados, são concebidos numa forma em que o histórico se mistura no mito e à lenda, e porque a uns e outros, por rituais adequados, os homens se dirigem a pedir idêntica proteção.
A seguir a estas formas vêm, na hierarquia cultual, os grandes heróis, as árvores notáveis, as pedras bizarras, a água, os rios, os fenômenos cósmicos, os animais. Pode mesmo dizer-se que, no mundo mental tradicional do Negro, tudo quanto existe possui um espírito pessoal, concebido à semelhança da alma humana.
É por isso que durante muito tempo se definiu este pensar pelo termo, aliás menos rigoroso, de animismo, Esses deuses ou espíritos que erram à nossa volta, são a causa de tudo quanto acontece; com paixões e desejos iguais aos nossos, eles podem ser-nos favoráveis ou nocivos, conforme incrementam ou diminuem a Força Vital que anima cada ser, e segundo o seu capricho ou o modo como são tratados ou comandados.
O Negro dirige-se a eles por intermédio de preces, oferendas ou sacrifícios — geralmente de sangue de animais (as mais das vezes galináceos).
Numa sociedade agrária, a religião e o culto fundamentais dirigem-se aos espíritos da terra, em vista à fertilidade. Os seus rituais comportam cerimônias, com frequência noturnas e secretas, com músicas e danças apropriadas, a cargo normalmente das sociedades iniciáticas, e recintos sagrados, por vezes um pequeno bosque, vedado aos profanos, onde se guardam os implementos e tabus do culto.
Aí está, meu caro leitor, uma pequena imagem religiosa da imensa África Negra.
Nesta obra — por outro lado — conforme bem o frisa o nobre prefaciador — por necessidade absoluta fizemos inserir um capítulo dedicado exclusivamente aos Orixás e Voduns do culto africanista pormenorizando, numa sintetização clara, suas imagens e características reais.
Pretendi, com este trabalho, por mais uma vez tornar-me útil aos meus distintos leitores, quando apresento esta obra onde descrevo, sem retóricas e sem ficção todo 'O RITUAL AFRICANO E SEUS MISTÉRIOS'.
Sem atingir o máximo, procurei atingir ao máximo, dando ao meu caro leitor, tudo aquilo que necessitava conhecer.
Prof. JOSÉ RIBEIRO O Autor
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