Todas as vezes em que um Zelador-de-Santo se propõe a publicar um livro sobre a religião que professa, fico entusiasmado em razão de crer que a obra será pautada nas experiências religiosas e no conta to íntimo com tudo o que cerca uma Casa de Candomblé. As conceituações científicas dos escritores tradicionais são abolidas, dando margem a que conclusões sejam reveladas no intuito de esclarecer o porquê da dinâmica afro-brasileira com um natural estímulo ao seu estudo.
Há algum tempo eu vinha tomando conhecimento do interesse do Guilherme de Ogum em elaborar um livro com um tema dos mais discutidos sobre a figura dos orixás. Yansã do Bale — Senhora dos Eguns representa um trabalho de pesquisa e muita busca de informações por ser este orixá um dos mais férteis em 'qualidades' e de muito efeito popular. Todo o seu universo compreende uma ação efetiva nos espaços em movimentos, os ventos soprados na direção das árvores com o agitar e queda de suas folhas para possibilitar uma divisão justa dos poderes de Ossanyin entre todos os demais orixás. O seu agitar e movimentação são retratados nas histórias de transformação dos búfalos da cidade de Ira, onde Yansã vive como figura destacada da realeza. E foi com esta condição que assumiu o domínio do reino dos eguns, dando sentido à participação dos ancestrais nas festas do Candomblé. Em seu toque característico — o Ilu — evidencia-se o desenrolar de uma coreografia mítica incrível, com todo o seu corpo em movimentos ágeis, mãos e pernas deslizando pelo espaço com atitudes de rainha absoluta, consciente de que o seu desempenho será fundamental para o controle daqueles que lhe são subordinados. Essa fidelidade no exercício de suas funções é coerente com a lealdade mantida junto a Xangô, até seus últimos dias. Quando Yansã chega, as pessoas sabem que Xangô não está muito atrás dela. Depois da ventania, os relâmpagos e trovões anunciam a chuva fertilizante para o ciclo natural do desenvolvimento da vida.
O tema desta obra é realmente muito fascinante e tem sido pouco abordado em razão de ser assunto 'muito de dentro' do Candomblé. O pouco que se escreveu a respeito é clássico no género, e agora, o que aí está, se une aos outros pelo nível de informações. Creio que não foi fácil separar aquilo que pode do que não deve ser dito; a barreira dos impedimentos muitas vezes inutiliza a sequência de um trabalho, o que não ocorre com lansã do Bale — Senhora dos Eguns, cuja dosagem de informações é constante e ordenada. Uma boa diagramacão ao lado de ilustrações claras, contribuem para a agradável leitura deste livro. Aceite os meus parabéns e cumprimentos pela obra que é o resultado de seu saber.
José Beniste
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